quinta-feira, 27 de setembro de 2012

História de Pescador




Era uma vez um grupo de pessoas que se diziam pescadores. Havia muito peixe nas águas vizinhas. Era uma região rica de lagos e de rios cheios de peixe. E os peixes estavam com fome.

Semana após semana, mês após mês e ano após ano, os chamados pescadores se reuniam e falavam da sua missão de pescadores, da abundância de peixe e de como pescá-lo. Ano após ano se reuniam e falavam sobre o significado da pesca, defendiam a pesca como ocupação, e recordavam que o dever primordial de um pescador é pescar.

Estudavam continuamente novos e melhores métodos de pesca. Adoravam criar slogans, tais como: “Pescar é tarefa de todo o pescador”, “Isca certa para o peixe certo”, etc., e lançaram campanhas especiais chamadas: “Campanha de Recrutamento de Novos Pescadores”, “Mês Máximo de Pesca”. Organizaram dispendiosos congressos nacionais e internacionais para discutir e promover a pesca, e trocar idéias sobre novos métodos de pesca, novas iscas, novos equipamentos e novas teorias sobre pesca.

Construíram magníficos edifícios chamados “Quartéis Generais da Pesca”. O objetivo era fazer com que todos compreendessem que devem ser pescadores, e que cada pescador deve realmente pescar. Uma coisa, porém, ninguém fazia: era pescar!

Além das reuniões regulares, foi nomeada uma comissão para enviar pescadores para os lugares mais ricos em peixe. Todos os pescadores pareciam de acordo em que o mais necessário era uma comissão que pudesse desafiar os pescadores a serem fiéis na arte de pescar. Esta comissão era formada por especialistas, dotados de grande visão e coragem para falar sobre pesca e promover a idéia de pescar em águas distantes, onde havia peixes de outras cores.

Foram empregadas pessoas e formadas comissões encarregadas de organizar reuniões, elaborar novos métodos, e decidir os novos lugares em que se deveria pescar. Mas nem os funcionários nem os membros dessa comissão iam pescar.

Foram criados amplos e dispendiosos centros de treinamentos para ensinar os pescadores a pescar. Ao longo dos anos foram dados cursos sobre as necessidades dos peixes, sua natureza, onde encontrá-los, suas reações psicológicas, e de como aproximar-se a fim de apanhá-los. Os professores possuíam doutorados em ictiologia, mas nenhum deles pescava. Apenas ensinavam a ciência da pesca. Após anos de exaustivos estudos, alguns deles se tornaram licenciados em pesca. Foram então enviados a águas longínquas, repletas de peixes, a fim de pescarem em regime de tempo integral.

Alguns empreenderam viagens para terras distantes, onde os pioneiros haviam pescado com tanto sucesso no passado. Eles elogiaram esses fiéis pescadores do passado, por sua dedicação ao ofício.

Posteriormente os pescadores construíram grandes casas publicadoras para que fossem publicados guias e literatura sobre a pesca. As máquinas trabalhavam dia e noite para produzir material especializado sobre métodos de pescar, equipamentos e palestras sobre pesca. Por fim, criou-se um departamento de relações públicas para contratar oradores especialistas em pesca.

Muitos, sentindo a vocação de pescadores, responderam ao apelo. Receberam, então, o encargo de pescar. Mas, tal e qual os demais pescadores, nunca puseram isto em prática. Em vez disso, envolveram-se em todos os tipos de  ocupações: passaram a fabricar aparelhos e equipamentos sofisticados para a pesca, tais como: anzóis, iscas, bóias, etc. Alguns disseram que, embora desejassem fazer parte da comunidade de pescadores, sentiam-se chamados para fornecer equipamentos de pesca. Outros entendiam que sua ocupação era a de travar boas relações com os peixes para que estes pudessem compreender a diferença que existe entre bons e maus pescadores.

Certa vez, após um apelo feito numa reunião sobre a necessidade de pescar, um jovem sentiu-se impelido a fazer algo, e foi pescar. No dia seguinte, contou que havia apanhado dois peixes grandes. Foi elogiado por sua façanha, e convidado a estar presente em todas as reuniões programadas a fim de contar como havia conseguido tal sucesso. Desta forma, deixou de pescar para contar aos outros sua experiência de pescador. Foi nomeado membro do Conselho Geral de Pescadores pela sua excepcional experiência.

É verdade que muitos pescadores haviam feito sacrifícios e enfrentado dificuldades. Alguns moravam junto à água e suportavam diariamente o cheiro de peixe morto. Eram objeto de escárnio porque dizendo-se pescadores, nunca haviam saído a pescar. Entretanto, não eram todos eles seguidores do Mestre que lhes havia dito: “Vinde após Mim e Eu vos farei pescadores de homens”?

Imaginem quão magoados se sentiram alguns deles, quando um dia alguém insinuou que quem nunca apanha um peixe não pode realmente chamar-se pescador. No entanto, a afirmação parecia correta. Pode alguém denominar-se pescador se nunca apanha um peixe? Estará cumprindo a sua missão se não vai à pesca?

John M. Drescher
Pastor da Igreja de Scottdale, Pennsylvania

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